Referência na cena de música avançada brasileira, Cadu Tenório está lançando mais um disco, “Rimming Copilation”, o terceiro divulgado pelo compositor somente este ano. Trata-se de um álbum duplo, porém, com duas partes extremamente distintas, cada uma possuindo até mesmo subtítulo e arte própria.
A primeira parte, “Liquid Sky”, é composta em sua grande maioria por densas paisagens sonoras, vozes letárgicas, sintetizadores defeituosos e saxofones melancólicos. A parte seguinte, intitulada “Phantom Pain”, mostra um lado ainda mais obscuro do trabalho de Tenório.
As faixas “Nozsa Wars” e “Cyberia (Digital Deathru)”, ambas de “Liquid Sky”, ganharam vídeos de divulgação. “Rimming Compilation” está disponível nos bandcamps do selo Brava, e do próprio Cadu Tenório. O disco também pode ser baixado gratuitamente no site da gravadora Sinewave.
Lançado pela gravadora Mais Um Discos, a coletânea “Real Rio” reúne artistas cariocas ou que vivem no Rio, representando os diversos estilos da música produzida na cidade.
As faixas foram selecionadas por Chico Dub, co-criador do festival Novas Frequências, e vão do rock à música eletrônica, apresentando nomes como BNegão, Ava Rocha, Elza Soares, Cadu Tenório, Benjão, Lila, entre outros, para o público internacional.
Juçara Marçal é a compositora e criadora de Encarnado, provavelmente o melhor álbum brasileiro de 2013. Cadu Tenório é um prolífico compositor da cena carioca de noise/improv, lançando uma média de aproximadamente três álbuns por ano desde 2012. Que dupla! Já vem rolando nos últimos, talvez, dois anos, uma aproximação da canção com estéticas e procedimentos comuns dentro do guarda chuva da música experimental. “Anganga”, um trabalho que atualiza os cantos dos Anganga é baseada nos congados e vissungos – cantos ancestrais dos negros benguelas (Angola) de São João da Chapada, Diamantina, Minas Gerais.
Chico Dub – De onde surgiu a ideia de fazer essa parceria?
Juçara – A parceria surgiu de um convite do Márcio Bulk, que havia acabado de fazer o disco Banquete com o Cadu e teve a idéia de nos juntar. topamos a parada. Eu sugeri de usarmos algumas das cantigas do “canto dos escravos”. o Cadu adorou a ideia e fomos adiante. devagarinho, até firmar o repertório. coisa que só aconteceu em meados deste ano.
Cadu– O inicio do processo foi bastante lento, até acharmos o tom exato que seria dado ao disco. Conseguimos quando finalizei o arranjo para Canto II, que foi o primeiro que pegamos pra fazer, demorei uns 6 meses do ano passado só nele. Depois disso achamos o ponto de forma tão coesa, na nossa cabeça, que mesmo as músicas inéditas presentes no disco(Eká e Taio), de minha autoria com participação da Ju, absorveram todo o clima e a energia dos Cantos.
Chico Dub – O que do “Anganga” é mais Juçara e o que é mais Cadu? Ou os dois perfis se tornam inseparáveis?
Juçara – Se formos pelo óbvio, as sugestões de canções são minhas, as construções de arranjo são do cadu. mas ouvindo Anganga, o que virou, não dá pra dizer o que é meu, o que é do cadu. Anganga é uma outra coisa, maior que nós.
Cadu – Assino embaixo, a química que bateu entre a gente é tão forte, e acredito que isso fique nítido no palco, que estamos numa relação de simbiose. Durante o processo de composição dos discos, das peças que abrigam os cantos, foi impossível não ser influenciado pela interpretação forte da Ju, assim como quando mandava pra ela os instrumentais já construídos, ela logo sentia a vontade de acrescentar mais ali e regravar os takes de uma nova maneira. E é dança é mais ou menos essa, um influenciando no próximo passo do outro.
Chico Dub – Qual a história por trás da língua das letras que dão corpo à voz de Juçara?
Juçara – Os vissungos, assim como os congados do disco são cantados em dialeto bantu. os vissungos são cantos de trabalho, os congados, cantos de devoção.
Chico Dub – Como exatamente os ruídos de Cadu trazem mais dessa mística afro-brasileira para as canções?
Juçara – Como exatamente? Impossível responder. Só sei que traz.
Chico Dub – A música tem mais ou tem menos função social num mundo hiper-estimulante e hiper-interativo?
Juçara – A música, qualquer forma de arte, é imprescindível pra qualquer agrupamento humano hiper, super, mega qualquer coisa. se há música, ela tem sua função.
Os critérios de escolha dos bons discos de 2014 continuam praticamente idênticos ao ano passado. Outra vez, acho que faltou inspiração nas bandas brasileiras, está tudo muito igual – tanto entre si quanto nas próprias bandas se repetindo. Isso acaba afetando mais o volume do que a qualidade, resultando em poucos bons disco.
Discorda? Problema nenhum. Em vez de pedradas e xingamentos, deixe dicas nos comentários.
A molecada do O Terno tem a seu favor justamente ser uma molecada. Sem muito compromisso ou pretensão, fizeram um disco que critica justamente a cena em que estão inseridos, entortando os clichês pra gerar algo novo. Isso é o mais interessante: não é exatamente um disco que aponte algo novo, porém ao simplesmente dar um passo pro lado e ousar ir numa direção um pouco (mas nem tão) diferente das bandas da sua geração, O Terno conseguiu se destacar. Vamos ver o que encontram nesse caminho mais adiante.
Cultura digital, música, urbanidades, documentários e jornalismo.
Não foi exatamente assim que começou, lá em 2003, e ainda deve mudar muito. A graça é essa.